quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PELA NOITE



Relatos de um sábado à noite.



I



Noite. Bebida, cigarros, sarros e sussurros. Papos, piadas, prosas e paradoxos traçados entre os dogmas da sociedade. Olhar. Sentado num banco, Tadeu olhou repentinamente para um grupo de garotos que estavam em pé ao redor de uma garrafa de vodka. Garrafas, gritos, gargalhadas e grosserias entre dois rapazes que se desentenderiam por motivos desconhecidos. Aquela confusão teria desestruturado aquela noite, naquela boate, principalmente a noite de Tadeu com aquelas pessoas, pois, olhara algo interessante anteriormente à confusão.


O dia se constituía claro no bairro das laranjeiras. Tadeu não sairia sozinho na noite passada, mas a volta se daria solitário. Os pensamentos soltos, porém circundavam um pedaço de guardanapo que puxara do bolso traseiro da calça quadriculada que vestia, na noite passada, Tadeu tinha escrito:



“Olhos escrupulosos, perversos, egoístas e atraentes.


Boca que evoca pensamentos e desejos, mas que não são possíveis.


Pensamentos distintos, sinceros, culposos e eloquentes.


Ânsias, expectativas e desejos não plausíveis.”



Rabiscos, rascunhos, rumores e rasgos. Ele se irritara com aquilo que escreveu pela noite, sobre aquilo que aconteceu – a briga – havia deixado lembranças insistentes que faziam questão de não sair dos aposentos da sua mente.



II


Na manhã seguinte, quando pegara o ônibus, Tadeu se depara apenas com uma cadeira vaga ao lado de uma velha senhora que beirava os oitenta anos e o desejara um bom dia.


- Bom Dia Senhora!



Retribuía com um sorriso repleto de educação e saudosismo que ele tinha e fazia questão de demonstrar. Algumas paradas se passaram e chegou a hora dele descer. Olhar. Mais uma vez o olhar de Tadeu o deixara na mão ao se direcionar para quem na porta dianteira do ônibus subia. Desceu e se encaminhou à faculdade onde cursava o terceiro período de cinema na universidade estadual local. Ao voltar para casa pegou o mesmo ônibus de sempre, chegara à sua casa um pouco menos de trinta minutos depois daquele episódio.



III



Final de semana, festa, fantasias, futebol. Tadeu não era o tipo de garoto que gostava de futebol, porém acompanhava seus amigos que treinavam num campo na própria faculdade, aos sábados pela manhã. Enfim... Noite, luzes, músicas, rapazes, moças, pessoas, vodka, álcool, bebida, boate. Aquela noite não se parecia nem um pouco com a de antes. Tudo aconteceu de uma forma mais direta. O olhar de Tadeu não o deixara na mão desta vez. Sempre as mesmas pessoas frequentavam àquele lugar, era um lugar visto com maus olhos pela sociedade.


Uma pessoa em especial chamara a atenção de Tadeu. Paquera, olhares, namoricos, azarações permeavam o olhar dele e agora daquela pessoa que tanto lhe chamara atenção e que tinha certeza ter visto antes – no ônibus – quem sabe? Um olhar trocado o chamara para uma noite de relações intensas e trocas de carícias jamais trocadas antes. Beijos, abraços e trocas íntimas provocadas por aquele olhar escrupuloso que nunca Tadeu esquecera. O dia raiva num bairro que não era mais aquele das laranjeiras. Duas pessoas deitadas numa cama, peladas, com corpos suados e cansados de uma relação que fora provocada apenas com um olhar. Dormiam agora para repor as energias que foram trocadas ou quem sabe transformadas em sentimentos.


Já se passara o meio-dia e os dois corpos ainda estavam grosseiramente estendidos na cama. Tadeu se acordara às quatorze horas e logo, sem se despedir, partiu. Talvez nunca entendesse porquê dessa decisão. Seu coração batera desta vez, mais que antes.



IV



Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, enfim chegou o sábado. Os amigos que acompanhavam Tadeu nas outras ‘noites de balada’ rejeitaram sua companhia nessa noite, pois saiu sem se despedir outrora – na balada passada – mas logo sentiram falta do amigo. Tadeu mudara de visual. Moreno, alto – um e oitenta e oito – pra ser mais correto, cabelo no estilo afro e com um estilo um pouco redefinido; ele cortara o cabelo desta vez e agora parecera muito diferente. Decidiu que naquele sábado sairia sozinho, não tinha companhia. Procurava alguém conhecido no meio da multidão badalada que ali estavam presentes naquele sábado, não avistará ninguém, quando de repente alguém o tocou no ombro, perguntando:



- Tadeu. É você?


Retrucou:


- Matheus, desculpas.


- Até hoje não entendo por que saístes sem se despedir.


- Desculpa.



Apenas isso foi argumentado por Tadeu.



-Senti saudades, sabia?



Falou Matheus num tom amigável.



Os dois se abraçaram e juntos foram curtir aquela noite na badalada boate de sábado à noite.


Noite. Mais olhares, outro bairro, outra cama e outros sentimentos.



Hugo Rodrigues


22/10/2010