quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


DONNE



Dedico este conto a duas grandes pessoas na minha vida. Ana Luísa Guimaraes e Eduarda Abelenda Oliveira Lima. Escrito a partir de “Tão fácil” escrito anteriormente para elas.


I


Quatro do doze de dois mil e dez.


... Se amaram e se amam até hoje, sem impactos, sem nuvens, sem restrição, apenas se conhecem o bastante para saber que para ser feliz basta realizar os mais simples sonhos, não seguir regras que nos delimita, basta amar o desconhecido e alcançar o inalcançável. Para ser feliz basta que tudo pareça tão fácil.


....................................................................................................................................................................


Era um pouco mais de duas horas da tarde, ou três quem sabe. Hora do almoço para aquele grupo de amigas que largara mais tarde do trabalho. Embora tivessem fome e tivessem largado tarde, as meninas que moravam na Tijuca, decidiram passear numa parte do calçadão da praia de Copacabana, que ficava próximo ao trabalho. Nesse trecho seria instalado um “stand” que giraria de acordo com a posição do sol e movido à energia que seria distribuída por algumas daquelas bicicletas de malhação, que seria implantada ao longo do calçadão; enquanto as pessoas malhavam, a energia era distribuída para a nova engenhoca. Coisa de outro mundo.


Corpos suados, sungas de banho, biquínis, vôlei na areia, guarda-sóis, e muitas, muitas pessoas estiradas sobre cangas estendidas nas areias quentes de Copacabana, mesmo sendo uma tarde de segunda feira.



II


Onze do doze de dois mil e dez.


Mais um final de semana começava no Rio de Janeiro sob a benção do Cristo Redentor. A Tijuca a essa altura da noite cheirava à curtição e a censura. Já imaginaram a Lapa? Lena e Leo preparavam suas coisas para sair. Maquiagem. Lápis de olho, base, pó, blash, sombra. Um lábio encostava no outro para dá o retoque final do baton rosa claro que preenchia de cor os lábios carnudos de Lena.


- Cinco minutos! Gritava Leo de baixo da escada que já havia esperado uma eternidade por essa mulher que era de deixar qualquer um de queixo caído no chão. Leo não ligava muito pra aparências, tampouco para maquiagem.


- Aonde vamos? –Indagou Lena de dentro do carro.


- Satyricon- Osteria del Mare. Lembra? – Respondeu Leo.


Lena por sua vez, excitada com a notícia respondia num tom eufórico: - Claro que sim.


O restaurante escolhido por Leo era um dos preferidos de Lena, já ouvira falando dele alguns dias antes no próprio trabalho. Lá serviam uma lagosta de dar água na boca que era o prato preferido do casal.


Vários copos, vários talheres, vinho, água, Leo veio de uma família refinada e saberia lhe dar com todos aqueles luxos. Lena anteriormente nunca teria ido até a parte exclusiva daquele restaurante, ficava no máximo na parte social que ficava bem escondida por trás de um balcão luxuoso. Garçom! Cardápio, refeição escolhida. Medo, receio, vergonha. Lena saia correndo daquela parte do restaurante para a surpresa de Leo e dos cliente discretos que estavam sentados próximos do casal.


- O que houve? Perguntava Leo.


-Nada. Apenas não queria fazer nada de errado com os talheres. Respondia respectivamente Lena, que se encontrava agora com os olhos cheios de lágrimas e tremia muito.


Para a surpresa de Leo, Lena começou a falar alto, gritando...


-Eu não aguento mais Leo!


-Eu gosto de você. Mas não me entendo por isso. E completou: - É um gostar que...


A entonação que Lena dava à suas palavras não deixou espaço pra Leo ter a certeza do que deveria fazer. Tomou-a nos braços e a beijou de uma forma surpreendentemente ansiosa e silenciosa que reagiria a qualquer frio que tentasse surgir naqueles corpos restritamente envoltos.



“ ... beijaram-se como beija um homem à uma mulher, sem receio. Atraídas pelo amor e induzidas por ele, porém alí nada se tratava de sexo e sim de almas, de corações e emoções...”



III



Treze do doze de dois mil e dez.



Embora fosse domingo, Leo e Lena tiveram expediente no trabalho, pois trabalhavam no mesmo lugar, ou melhor: na mesma senzala. Era um pouco mais de onze horas da manhã quando resolveram fugir um pouco da rotina. Não saíram com as amigas. Decidiram ir num bar que ficava perto da lagoa. Algumas cervejas, outros cigarros e nenhuma palavra trocada. Ficaram em silêncio por mais de três cervejas e cinco cigarros.


- Sentamos à mesa; Cigarros, bebidas e tonturas. Não lembro bem, acho que nos beijamos. Falava Leo sem receios, mas com uma firmeza espantadora.



“ Então entreolharam como quem olha para o céu azul, sem nuvens, afim de ver de fato o azul célebre do céu, sem impecílios, transtornos ou medos”.



Tudo poderia ser “so easy” se Lena aceitasse a situação. Mas ela insistia em querer se desfazer daquele mal entendido.


(...)




IV




Aviões, check in, horários, voos, passagens compradas. Lena viajaria para a Itália onde ficaria na casa da sua tia Aprilia. Antes de ir para o Aeroporto Internacional Tom Jobim, escreveu uma carta para Leo dizendo o que estaria acontecendo e mandando o endereço de Aprilia. Ao fechar a porta do apartamento e partir para a majestosa Itália, observou que subia alguém pela escada. Pensou: “ Deve ser a fofoqueira da Janete”. Abriu a porta e entrou rapidamente para não ter que dar satisfações. Quando mal esperava quando a borta foi batida por alguém três vezes. E mais três vezes desesperadas batidas. Indecisões, medos , angustias. Terá ela sido tão devagar que a carta chegara às mãos de Leo antes mesmo que ela esperava? Era Leo. Decidiu abrir.


Foi surpreendida com um beijo acompanhado por um pedido de namoro. A viagem foi cancelada e Tia Aprilia agora não passaria seu aniversário de 78 anos com a sobrinha caçula.


“E mais um final de semana com as bênçãos do CristoRedentor, que por mais discreto e gente boa, fica meio de lado pra a Tijuca, pra não atrapalhar a lua de mel dos pombinhos...”



- Sim Eleonora, sim ...



Vinte e oito do doze de dois mil e dez.


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------


HugoRodriigues